terça-feira, 15 de janeiro de 2013

COMO SER UMA DAMA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA E PRÉ-APOCALÍPTICA
 Por: Patrícia Borges



 Nasci numa sociedade cheia de tabus num contexto de ditaduras e de uma crescente criatividade artística que mudaram os rumos da história de meu tempo. A tecnologia já caminhava sobre duas pernas, o mundo já vivera duas grandes guerras, mas ainda vivíamos imersos na guerra ideológica cognominada de “guerra fria”. A pílula já existia, já havíamos ido à lua, já havia TV em cores e por todos os lados se respirava o oxigênio da revolução. Eram os anos dourados e meu frágil corpinho recém-reencarnado já trazia a incumbência de colaborar com as transformações desse mundo. A geração 70 tem uma característica interessante. Ela foi inserida dentro de um contexto aonde ainda se vivia numa cultura de anos 60, pois ainda vivíamos sob a influência da moda, da música e da literatura dessa época. E a transição para os anos 80 foi uma coisa muito louca porque saímos de um mundo em preto e branco e mergulhamos numa cultura multicolorida. Lembro-me dos anos 80 como uma década colorida. Acompanhamos as mudanças no cotidiano doméstico como se acompanha um filme na telona do cinema. Sou de uma geração multifacetada pelas mudanças rápidas. Minhas antepassadas foram mulheres caseiras, submissas e resignadas. Conheci este lado através de minha mãe, que por escolha, abdicou de uma profissão para ser mãe e dona de casa em tempo integral. Por outro lado convivi com diferentes tipos de mulheres que moldaram minha personalidade com seu comportamento de vanguarda. Essas mulheres entravam em minha casa através da televisão. As mulheres das novelas da Globo dos anos 70 e 80 são fascinantes e só para citar algumas não devemos esquecer da talentosa artista Simone Marques de “Selva de Pedra”, da corajosa Isaura de “A Escrava Isaura”, da Malu de “Malu Mulher” e até mesmo da Emília do “Sítio do Pica Pau Amarelo, entre outras... Somado a tudo isso vinha a rígida disciplina dentro da sala de aula aonde tive o desprazer em conhecer a palmatória, mas também o orgulho de passar por professoras maravilhosas e inesquecíveis como a D. Wilma, professora de português sexagenária que conduzia sua classe da 4ª série com pulso de ferro. Em sua aula ninguém brincava, ou conversava. Ninguém tinha tempo porque vivíamos ocupados demais conjugando verbos. Era a minha preferida! Deu aula até falecer mesmo estando aposentada. Outra influência foi na igreja na figura das santas. Acho que li a biografia de pelo menos uma meia dúzia delas. Depois vieram Jane Austen, Raquel de Queiroz, Agatha Christie, a sexóloga feminista norte americana Shere Hite com seu Relatório Hite que peguei emprestado na biblioteca do SESC e que tive que ler escondida de minha mãe por ser proibido para menores... e por aí vai. Estas mulheres abriram as portas do mundo para mim e sempre agradeço aos céus por tê-las conhecido tão cedo, ainda na formação de minha personalidade. Acho que essa variedade de estilos trouxe muito equilíbrio porque ao mesmo tempo em que lia o Relatório Hite, costumava intercalar com a leitura de biografias de mulheres virtuosas. Enquanto lia Madame Bovary e A Dama das Camélias, intercalava com a leitura de livros do Pe. Zezinho direcionado às jovens mocinhas na fase do catecumenato. E para não cair de vez na devassidão ou na alienação me apareceu de repente o livro “Isis sem Véu” de Helena Petrovna Blavatsky a quem tenho profunda devoção. Sei que não podemos ser outra pessoa, mas se eu tivesse o poder de ser outra pessoa, com certeza seria a Senhora Blavatsky! Não me tornei bruxa nem santa. Talvez algo entre uma coisa e outra que ainda não consegui definir. O fato é que a flexibilidade de minha mente à novas ideias e pontos de vistas lançaram sobre minha alma uma luz que me possibilitou um maior grau de discernimento acerca de tudo o que me cerca. Assim, pude aprender lições muito difíceis sem ter que passar por situações conflitantes. Pude entrar na cabeça das pessoas através de personagens que carregavam uma grande carga psicológica sem que eu tivesse que conhecer o inferno. Pra eu me valorizar como mulher tive que entrar no submundo da prostituição através de “A Dama das Camélias” e assim compreender como é ser usada sexualmente sem que para isso eu tivesse que me prostituir. Chegar ao século XXI municiada contra toda essa onda de consumismo, sexo livre, narcisismo e toda forma de egolatria não seria possível sem trabalho mental e disciplina através de práticas ascéticas voltadas para o autoconhecimento. Ter a liberdade de poder me olhar no espelho e querer ficar bonita como Margarida Gautier, mas com a virtude de Santa Rita e a inteligência de Blavatsky me custaram caro demais, mas foi um preço que valeu por cada centavo. O preço que tive de pagar foi o de não me encaixar em nenhuma tribo. Consegui provar pra mim que é possível ser sexy sem ser vulgar, ser inteligente sem ser feminista e ter lucidez espiritual sem radicalismo. No mundo existem mulheres fascinantes a quem sempre procurei imitar, mas nunca desprezei os maus exemplos de mulheres incautas. Estas também contribuíram muito para a formação da mulher que me tornei. Se tivesse que dar um conselho para a menina que fui, diria que, provar do fruto da árvore do conhecimento pode abrir nossos olhos, mas temos que estar preparados para assumir as consequências. E se como consequência ela receber a solidão, digo-lhe que ela não se preocupe, pois na realidade nunca estamos sozinhos. A solidão é um estado de espírito, pois não é preciso estar só para se sentir solitário. Mas isso também é muito relativo, então ela terá que experimentar para tirar suas próprias conclusões. Para mim a solidão é uma experiência fascinante para quem souber tirar proveito dela e acho que aprendi a fazer isso. Às mulheres de todas as gerações digo apenas que busquem o conhecimento, mas valorizem as virtudes acima de qualquer coisa. Sejam verdadeiras damas. Não queiram chamar a atenção através de gestos ignóbeis e vulgares. Procurem praticar a caridade para com o próximo. Não se rebaixem para mendigar o amor de quem não lhes merecem. Aproveitem as decepções e as direcione para um rico aprendizado pessoal. Às solteiras aconselho a direcionarem sua energia sexual para atividades enobrecedoras ou para as artes. Escrever é sublime, pintar é sublime, interpretar é sublime, meditar é sublime. Tudo o que é feito com/por amor é sublime. Não nos falta oportunidade para o auto aperfeiçoamento. Os juros continuarão aumentando, as catástrofes continuarão ocorrendo, as doenças continuarão ceifando vidas ao nosso redor, vamos envelhecer, vamos morrer, mas os frutos de nossas ações permanecerão presentes na vida daqueles que passaram por nossas vidas e continuaremos vivendo em suas memórias enquanto trilhamos nosso caminho rumo ao infinito. E lembrem-se: enquanto você estiver com você mesmo, você nunca estará sozinho, mas se você se abandonar ninguém mais poderá preencher esse abismo deixado por você mesmo. E este conselho vale para homens e mulheres. Na dúvida olhem para Jesus nosso modelo de virtude e coragem. Paz e luz!!